Qual a diferença entre o Palmeiras de 96 e o Coritiba desse ano?

Campeão do campeonato paranaense com uma rodada de antecedência, 26 jogos de invencibilidade na temporada e, incrivelmente, 21 vitórias consecutivas. Esses são os surpreendentes números do Coritiba, do técnico Marcelo Oliveira. E nessa semana, no jogo contra o Caxias-RS, pela Copa do Brasil, o Coritiba pode superar uma marca nacional histórica de sequência de vitórias, até então detida pelo Palmeiras de 96. Se perder ou empatar, o Coritiba dividirá as honras com o Palmeiras, mas, caso vença a partida, será o dono da marca que antes pertencia ao técnico Vanderlei Luxemburgo. Mas, pensando bem, qual a diferença entre esse Coritiba e o Palmeiras do ano de 1996?
A resposta, dita com esse meu tom de coisa óbvia, é cruel para os torcedores do coxa branca: a diferença é o campeonato que as duas equipes disputam.
Entre 11 de fevereiro e 1º de maio de 96, o Palmeiras ganhou 21 partidas. Dezoito pelo Campeonato Paulista e três pela Copa do Brasil, incluindo uma goleada histórica de 6 a 0 sobre o Santos, dentro da Vila Belmiro. A sequência só parou num empate em 2 a 2 com o Corinthians, em 5 de maio, pelo Paulistão. 

As 21 vitórias seguidas do Palmeiras em 1996:
Campeonato Paulista
Palmeiras 4 x 1 Juventus
São Paulo 0 x 2 Palmeiras
Palmeiras 3 x 1 Portuguesa
Corinthians 1 x 3 Palmeiras
Palmeiras 3 x 1 Guarani
Araçatuba 1 x 2 Palmeiras
Palmeiras 4 x 1 Rio Branco
Botafogo-SP 0 x 8 Palmeiras
Palmeiras 6 x 0 América-SP
Santos 0 x 6 Palmeiras
Palmeiras 4 x 0 XV de Jaú
Ferroviária 1 x 5 Palmeiras
Palmeiras 4 x 0 Novorizontino
Palmeiras 2 x 1 Mogi Mirim
Palmeiras 5 x 0 União São João
Juventus 1 x 5 Palmeiras
Palmeiras 3 x 2 São Paulo
Palmeiras 2 x 1 Portuguesa
Copa do Brasil:
Sergipe 0 x 8 Palmeiras
Atlético-MG 1 x 2 Palmeiras
Palmeiras 5 x 0 Atlético-MG

Fazendo uma comparação do Campeonato Paulista com o Paranaense, podemos, sem fazer nenhuma injustiça, afirmar que o nível de dificuldade que o Palmeiras enfrentou foi, sem dúvidas, maior do que o que o Coritiba enfrenta hoje.
Na sequência palmeirense, incluíam-se grandes times da primeira divisão do Campeonato Brasileiro, como São Paulo, Santos, Corinthians e Atlético-MG (pela Copa do Brasil), além dos tradicionais azarões – Portuguesa, Botafogo-SP e Guarani (único time a vencer o verdão no Paulistão de 96). 
No campeonato Paranaense, o número de adversários convincentes é baixo. Operário, Iraty, Arapongas, Cianorte, Corinthians-PR, Roma-PR, Paranavaí, Rio Branco e Cascavel são nomes pouco tradicionais do futebol brasileiro. Até o Paraná Clube, até pouco tempo pertencente à primeira divisão do brasileiro, está mal – caiu para a segunda divisão do estadual. Só nos restou então, o Atlético-PR, única equipe capaz de medir forças com o Coritiba.
Tecnicamente, o Palmeiras de Vanderlei também era melhor: O time começava com Velloso, em ótima fase, e contava com dois granes laterais – Cafu e Júnior. Na zaga, Cléber, autor de muitos gols naquele ano, e Sandro Blum. No meio, Amaral, Flávio Conceição e, certas vezes, Galeano, davam suporte para o eficiente quarteto ofensivo, que tinha Luizão, Djalminha, Muller e Rivaldo – Era esse o time base do ataque dos 100 gols, que na verdade marcou 102 vezes em 30 jogos, atingindo então uma fantástica média de 3,4 gols por partida.

Vale lembrar também que a maior parte desses jogadores teve importante passagem pela Seleção brasileira. O lateral-direito Cafú, por exemplo, foi o capitão do pentacampeonato brasileiro na Copa de 2002, tendo ainda participado das duas Copas do Mundo anteriores (1994 e 1998). O lateral-esquerdo Júnior e o centro-avante Luizão foram, respectivamente, reservas de Roberto Carlos e Ronaldo na Copa do Mundo de 2002. Rivaldo, que chegou a ganhar o prêmio de melhor jogador do mundo em 1999 pela FIFA, foi destaque da Seleção vice-campeã do mundo em 1998 e da campeã de 2002. Acontecimentos que fazem dessa equipe, um laboratório da seleção brasileira. Fato que, aparentemente, não é o caso do Coritiba do Marcelo Oliveira – que conta com Edson Bastos, Jonas, Pereira, Emerson, Lucas Mendes, Léo Gago, Leandro Donizete, Rafinha , Davi, Marcos Aurélio e Bill.

É por esses detalhes – nível técnico do campeonato e brilhantismo individual da equipe a longo prazo – que fica difícil dizer que o Coritiba superou o Palmeiras de 96. Mas, infelizmente, números são números. Somente devido a essa perspectiva de análise do futebol a fantástica campanha de Vanderlei Luxemburgo será atropelada pela equipe paranaense. Entretanto, os amantes do futebol já podem começar a respirar aliviados: Felizmente, o fraco Campeonato Paranaense só tem mais uma rodada pela frente a ser disputada. Somente a partir daí poderemos saber se o recém chegado à primeira divisão Coritiba de 2011 colocará seu nome nos grandes feitos estatísticos, ou se entrará para o hall das grandes equipes do futebol brasileiro – como fez o Palmeiras de 1996.

Escrito por Douglas Nascimento (@dg_nascimento)